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29 de out. de 2014

Ressaltavam os anarquistas quão perigosos são os usos que o governo pode fazer do ensino quando o tem sob controle. Essa reflexão serve para avaliar o exagero da mídia em torno da inviável e perturbadora votação obtida por Dilma Rousseff no município de Belágua; algo em torno de 94% de todo eleitorado. Tão retumbante, que talvez só coubesse como realidade numa obra de ficção de Gabriel Garcia Marquez.

Bem mais da metade da população de Belágua sobrevive às custas de R$ 184,00 do Bolsa Família, o que, na visão de apressados e desonestos analistas políticos, representa uma vitória da distribuição de renda no Brasil. Mas o verdadeiro nome dessa mensalidade é miséria, é pobreza extrema, é vida abaixo de qualquer dignidade. Belágua é o melhor exemplo do uso perigoso da educação pelo governo, pois sobra à evidência que o poder púbico não cuidou de educar ninguém por lá.

Na televisão, Belágua surge como mais um município sem banheiros, sem saneamento básico, sem água potável, sem estradas, onde crianças visivelmente atacadas de “barriga d’água” aparecem nos holofotes da mídia como estatísticas da inclusão social. Entretanto, na ressaca da mais disputada eleição do país, Belágua se tornou referência de vitória dos programas sociais do PT. Belágua, no entanto, só serve como exemplo do fracasso do Estado no gerenciamento da educação e da saúde e do uso da miséria pública como matéria de desvirtuamento eleitoral.

Moradores que deixaram a roça para viver na “cidade” foram entrevistados e contaram como, depois do Bolsa Família, a vida se tornou melhor. Roças que não rendiam nem sequer 184,00 reais por mês! Roças que não podem ser roças, pois só revelam a condição subumana do homem do campo do Maranhão. No entanto, a notícia de tão absurda unanimidade eleitoral (94 %) corre o mundo e só não é mais espantosa que a existência de pessoas que acreditam que melhoraram de vida porque seria impossível a vida ser pior.

São as roças de quem não tem terra para plantar, de quem foi tangido pelo gado, pelo bacamarte dos jagunços, por guardas pretorianas, por uma perversidade econômica que eles não têm sequer como compreender.

Belágua é apresentado como oásis de um partido político que poderia ser qualquer outro, quando a cidade é tão-somente uma verdade cruel: a de que existem homens que comem menos e pior que nossos cães. É a verdade da miséria onipresente no Maranhão, do analfabetismo crônico, da mortalidade prematura e da pungente desigualdade social no Brasil.     Belágua não é uma verdade eleitoral; é um prêmio à inversão de valores, à ausência do Estado que torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres e retrato perfeito do engodo e da mistificação.

Belágua é a certeza da existência de muitas Beláguas nesse Estado e o exemplo mais perfeito do irremediável fracasso da inclusão social no Brasil. (Editorial - Jornal Pequeno)

 

 

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