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28 de abr. de 2011

Fusão PSDB-DEM representa a fragilização da oposição e o "endireitamento" tucano, dizem analistas
Guilherme Balza
Do UOL Notícias
Em São Paulo
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu pela primeira vez, nessa terça-feira (26), a possibilidade de uma fusão entre PSDB e DEM, embora as conversas nessa direção ainda estejam engatinhando. Na avaliação de cientistas políticos entrevistados pelo UOL Notícias, a junção das legendas é uma saída para a fragilização da oposição e representa o alinhamento tucano à ideologia de direita.
“O processo de fusão não é tão simples, nem é desejável pelos partidos, mas é uma questão de sobrevivência”, afirma o cientista político Francisco Fonseca, professor da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas). Já o sociólogo Bolívar Lamounier, filiado ao PSDB, diz que uma fusão “sempre envolve dificuldades com a militância”, mas, “em tese, parece bom”. "A oposição passa por um enfraquecimento. É preciso reaglutinar forças. Qualquer movimento nesse sentido é bom.”
Para Fábio Wanderley Reis, cientista político da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), o “drama” do PSDB tem relação com o fato de que o PT se tornou um partido social-democrata e ocupou o espaço dos tucanos. “O PSDB se viu empurrado para a direita e se aproximou do DEM há muito tempo. A fusão seria um carimbo de direita na testa dos tucanos, e o partido continuaria sem condições de acenar a um público mais amplo."
Já Lamounier avalia que as diferenças ideológicas das siglas ficaram para trás há muito tempo. “Se olharmos o governo FHC, o PFL [atual DEM] foi um apoio muito importante, esteve junto com o PSDB o tempo todo, embora nas origens os partidos eram muito diferentes”, avalia o sociólogo.
“A questão ideológica é menor para as legendas. O DEM é um partido conservador e o PSDB se aproximou do conservadorismo. A última campanha presidencial do Serra, por exemplo, foi algo bem distante de uma social-democracia laica e moderna”, aponta Francisco Fonseca. “Em contrapartida, os democratas têm buscado uma roupagem nova, com um discurso mais moderado, em prol das questões sociais."
Origens e cenário atual
O PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) foi fundado em 1988 --por dissidentes do MDB insatisfeitos com o governo de Sarney-- como um partido de centro-esquerda. A maioria dos seus fundadores e quadros políticos se opôs à ditadura militar e muitos foram perseguidos. Já o PFL (Partido da Frente Liberal), que deu origem ao DEM, surgiu em 1985 de uma dissidência do PDS (Partido Democrático Social), antigo Arena, partido dos militares nos anos de chumbo.
A aliança entre as duas siglas foi selada nas eleições de 1994, quando Marco Maciel foi indicado para ser vice-presidente na chapa de FHC. Desde então, os dois partidos mantêm parcerias no Congresso e em diversos Estados e municípios.
Se a fusão ocorresse no cenário político de hoje, o novo partido teria a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, atrás da do PT, com 53 deputados tucanos e 32 democratas --sem contar os que estão se transferindo para o PSD de Kassab; no Senado, seriam 17 senadores (dez do PSDB e sete do DEM), número menor apenas do que a bancada do PMDB.
A nova sigla teria ainda dez governadores (oito tucanos e dois democratas). “A fusão sinalizaria às outras siglas e ao governo um partido forte e uma oposição mais articulada ”, afirma Fonseca.
Para Fábio Wanderley Reis, a junção é mais vantajosa aos democratas. “O DEM, que está correndo risco de extinção, ganharia mais com uma fusão”, diz. “Mas eu acho difícil que a junção aconteça. A identidade do PSDB teria que ser sacrificada. Um caminho mais plausível é o DEM aderir aos tucanos”, avalia o cientista político.

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