Somados votos brancos e nulos com
abstenções, índice de eleitores que não escolheram nenhum dos candidatos
no segundo turno passa de 26%. Índice é o maior desde 2000
Um em cada quatro eleitores decidiu não
escolher nenhum dos cem candidatos que concorreram às prefeituras no
segundo turno das eleições municipais de 2012. Somados os votos brancos e
nulos com a abstenção de domingo (28), o índice de rejeição aos
candidatos chegou a 26,58%, maior percentual registrado desde as
eleições municipais de 2000.
Com base em dados registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas últimas quatro eleições municipais, o Congresso em Foco
chegou à conclusão de que nunca houve antes tanto desinteresse por uma
disputa eleitoral. Seja por não se sentir representado pelos
concorrentes, seja por vontade de não participar do processo. Os números
considerados em ambos os turnos foram os dados aos candidatos a
prefeito.
O primeiro dado que impressiona é o número de eleitores que sequer
compareceu às zonas eleitorais para escolher seu prefeito. Do total de
31 milhões de eleitores que estavam em condições de votar,
aproximadamente 6 milhões não foram até as cabinas de votação. Para o
cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, os
motivos são os mais variados. Desde alienação com o processo eleitoral
até viagens e doenças são razões para não ir às urnas.
Mas a esses ausentes, somam-se aqueles que, à frente das urnas,
preferiram não escolher nenhum dos nomes disponíveis na disputa. Foram
registrados 837 mil votos em brancos e 1,5 milhão de nulos, o que chega a
um total de 8.433.727 pessoas que, de alguma maneira, não se sentiram
representadas pelos políticos na disputa. Das dez cidades com os maiores
índices, cinco são do Rio de Janeiro, três de São Paulo, uma de Santa
Catarina e outra do Rio Grande do Norte.
O número de pessoas que foi às urnas e não votou em ninguém é duas
vezes e meia o número de eleitores que votou em Fernando Haddad, o
candidato do PT eleito prefeito de São Paulo, a maior cidade do país.
Haddad foi eleito com 3.387.720 votos. É mais que toda a população da
Suíça, que tem 7.907.000 habitantes. Equivale ao número de eleitores de
Portugal (9,6 milhões). É um dado que chegou a preocupar, no domingo
(28), a própria presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen
Lúcia.
O município que teve o maior índice de abstenções e votos brancos e
nulos foi Petrópolis (RJ). Na cidade, a Justiça Eleitoral registrou um
índice de abstenções de 22,57% (54.480 votos) na disputa em que Rubens
Bomtempo (PSB) levou a melhor sobre Bernardo Rossi (PMDB). Também houve
4,18% (7.806) de votos brancos e 12,48% (23.328) de nulos.
Outras duas cidades fluminenses vieram em seguida. Niterói e Nova
Iguaçu, que teve a maior abstenção proporcional do país, tiveram 34,24% e
33,24% respectivamente. Os municípios paulistas Campinas, Santo André e
Guarulhos, a catarinense Florianópolis, Belfort Roxo (RJ) e Natal,
capital do Rio Grande do Norte, completam a lista dos dez mais.
Só um terço do que poderia
No total, porém, ninguém supera a maior cidade da América Latina. O
petista Fernando Haddad, ex-ministro da Educação nos governos de Lula e
de Dilma Rousseff, venceu o tucano José Serra com aproximadamente um
terço do total de votos possíveis na capital paulista. São Paulo, na
lista proporcional, fica em 11º na lista dos municípios com a maior
quantidade de abstenções, brancos e nulos: 29,27%.
Um dado preocupante é que a adesão do cidadão aos candidatos às
eleições parece diminuir a cada ocasião. Desde 2004, a soma das
abstenções com os votos brancos e nulos só faz crescer a cada eleição.
Quando se consideram apenas as abstenções, os percentuais oscilam mais.
Nos dois turnos das eleições de 2000 e 2004, o índice se manteve
estável, flutuando entre 20% e 22%. No entanto, no pleito municipal
passado, especialmente na segunda tomada de votos, o percentual cresceu e
passou dos 24%. Em 7 de outubro, a marca de abstenções, brancos e nulos
chegou a 25,7%. No último domingo, os dados do TSE apontam para 26,6%.
Preocupação
No domingo (28), a presidenta do TSE, Cármen Lúcia, demostrou
preocupação com o aumento do índice. No primeiro turno, a abstenção
ficou dentro da média histórica para os pleitos municipais, entre 14% e
16%. No entanto, no segundo turno a ausência subiu três pontos
percentuais. Ela, inclusive, acrescentou que a análise é uma tarefa para
“especialistas, os cientistas políticos”. Para Fleischer, votos brancos
e nulos e as abstenções têm origens diferentes. Uma reflete a vontade
de votar, a outra não.
Cármen Lúcia sugeriu que, após identificar as razões para o aumento
da abstenção – também recorde de 2000 para cá na disputa municipal –,
sejam tomadas providências para diminuir o número. “Devemos nos
debruçar sobre esses dados para que tenhamos uma verificação adequada de
suas causas e consequências, (…) para convidar com mais eficácia todos
esses eleitores que se abstiveram de votar nas eleições de 2012”, disse.
Na prática, o voto no Brasil não é obrigatório. Apesar de a
legislação prever que o eleitor deve escolher seus candidatos a cada
dois anos, sob pena de diversas sanções, isso só acontece caso ele não
compareça a uma zona eleitoral e não apresente depois qualquer
justificativa. Ou seja, quando a abstenção é justificada, quem deixou de
votar não terá nenhum problema.
Fleischer lembrou que os dados analisados pelo Congresso em Foco
estão acima da média histórica. Ele entende que, em eleições mais
disputadas, como foi o caso de Curitiba, por exemplo – a soma de
abstenção, brancos e nulos ficou em 16,04% – existe uma vontade maior do
eleitor em participar. Porém, em casos onde existe uma diferença grande
entre os dois candidatos, ocorre o efeito “já ganhou, já perdeu”. “As
pessoas acham que não precisam votar”, disse.
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