Flávia D’Angelo, do estadão.com.br
Em uma solenidade marcada por emoção, a presidente Dilma Rousseff
empossou, nesta quarta-feira, 16, os sete integrantes da Comissão da
Verdade: Cláudio Fonteles, Gilson Dipp, José Carlos Dias, José Paulo
Cavalcanti, Maria Rita Kehl, Paulo Sérgio Pinheiro e Rosa Maria Cardoso.
Depois assinou o decreto da Lei 2527, de 18 de novembro de 2011, que
regulamenta a comissão.
Em seu discurso, Dilma destacou a colaboração de governos que a
antecederam e disse que todos trabalharam para a criação da comissão. No
fim de seu discurso, com a voz embargada, Dilma pediu que o Brasil não
fique à totalidade de sua história. “A ignorância não é pacífica, pelo
contrário, mantém latentes, mágoas e controles. A sombra e a mentira não
são capazes de prover a concórdia”, disse ela e emocionada citou as
vítimas da ditadura e seus parentes. “A força pode esconder a verdade, o
medo pode adiá-la, mas o tempo pode trazê-la à luz. Hoje esse tempo
chegou.”
Antes de Dilma, falaram o representante das Nações Unidas, Américo
Incalcaterra e José Carlos Dias, um dos membros da Comissão da Verdade.
Incalcaterra destacou a importância para a democracia de um país. “O
desenvolvimento (da comissão) é um passo essencial para curar
as feridas do País”, afirmou. Ele no entanto, pontuou que as
investigações são “decisivas para impulsionar reformas de direitos
humanos no futuro mas não substituem o julgamento dos crimes”.
Já José Carlos Dias destacou que “se bem conduzidos, os trabalhos
representarão uma institucionalizada memória coletiva”. “Haveremos de
encontrar um caminho próprio para oferecer à nação. Ela se dá bem tarde
perto da data em que (os fatos) ocorreram, mas acontecem depois
de três presidentes que sofreram os abusos daquela época”, afirmou em
referência à FHC, Lula e Dilma. Em tom eloquente, Dias afirmou que
“jovens daquela época viveram o sonho da contestação, o que não
justifica os atos de violência praticandos por agentes do Estado”. Por
fim, mandou um recado à nação brasileira e fez um paralelo à obra de Dom
Paulo Evaristo Arns, Brasil Nunca Mais, que traz relatos de crimes de
tortura: “podem confiar, presidentes e nação brasileira, honraremos o
pedido. Não somos os donos da verdade, mas nos comprometemos a dar ao
nosso trabalho o Esforço Nunca Mais”.
Solenidade. O evento que empossou o grupo da
Comissão da Verdade contou com a presença de todo o corpo ministerial do
governo Dilma, dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando
Collor (PTB), Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e José Sarney (PMDB),
familiares de desaparecidos políticos e militantes de direitos humanos.
O grupo deve iniciar ainda nesta quarta a primeira reunião para
discutir o plano de trabalho para os dois anos de investigação. De
acordo com dados publicados no documento Direito à Memória e à Verdade,
do governo, são 150 casos de opositores do regime militar que, depois de
presos ou sequestrados por agentes do Estado, desapareceram. A prisão
deles não foi registrada em nenhum tribunal ou presídio, os advogados
não foram notificados e os familiares até hoje procuram esclarecimentos.
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