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3 de out. de 2012



Ao ser interrogado em 2008, ex-ministro assumiu que organizou formação da base aliada no início do governo Lula

Dirceu diz que nunca tratou de assuntos financeiros com líderes dos partidos que receberam do esquema

DE BRASÍLIA

O STF (Supremo Tribunal Federal) começará a julgar hoje o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares pelo crime de corrupção ativa no processo do mensalão.

Dirceu é apontado pela Procuradoria-Geral da República como principal responsável pela organização do esquema operado por Delúbio com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
O ex-ministro chefiou a campanha que elegeu o ex-presidente Lula em 2002 e assumiu o papel de principal articulador político do novo governo, negociando acordos com os partidos que formaram a base de apoio.

Em sua defesa no processo do mensalão, Dirceu admite que negociou com os partidos aliados, mas nega ter tratado de assuntos financeiros com eles e diz que se afastou da administração do PT ao assumir a Casa Civil.

Em seu interrogatório no processo, Dirceu disse que "organizou e negociou" a formação da base aliada, que incluía os partidos (PP, o extinto PL, hoje PR, PTB e PMDB) cujos líderes foram condenados nesta semana por corrupção passiva no Supremo.

Sete dos dez ministros também disseram que o objetivo do esquema era comprar votos no Congresso no início do governo Lula, e não pagar dívidas de campanhas eleitorais, como dizem o ex-presidente Lula e os acusados.

Dirceu foi interrogado pela juíza federal Silvia Rocha em 24 de janeiro de 2008, por ordem do STF. Indagado se o ex-ministro da Casa Civil Aldo Rebelo (PC do B) havia conduzido as negociações para formação da base aliada, Dirceu a corrigiu: "Não, foi eu que organizei e negociei a base aliada entre janeiro de 2003 a janeiro de 2004, que eu era o ministro responsável pela articulação política".

No período citado por Dirceu, o esquema montado pelo PT e Valério já havia recebido R$ 30 milhões de um fundo controlado pelo Banco do Brasil e R$ 32 milhões em empréstimos concedidos pelo Banco Rural e considerados fraudulentos pelo STF.

No mesmo período, o esquema destinou R$ 1,1 milhão para membros do PP, R$ 7,5 milhões para o extinto PL, R$ 1,6 milhão para o PTB e R$ 200 mil para o PMDB.

Em nota enviada ontem à Folha, a assessoria de Dirceu afirmou que seu interrogatório na Justiça Federal e "todas as demais provas do processo" mostram que o ex-ministro jamais tratou de dinheiro com esses partidos.

(RUBENS VALENTE E FLÁVIO FERREIRA)

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