Ao ser
interrogado em 2008, ex-ministro assumiu que organizou formação da base aliada
no início do governo Lula
Dirceu
diz que nunca tratou de assuntos financeiros com líderes dos partidos que
receberam do esquema
DE
BRASÍLIA
O STF
(Supremo Tribunal Federal) começará a julgar hoje o ex-ministro José Dirceu, o
ex-presidente do PT José Genoíno e o ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares
pelo crime de corrupção ativa no processo do mensalão.
Dirceu é
apontado pela Procuradoria-Geral da República como principal responsável pela
organização do esquema operado por Delúbio com o empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza.
O
ex-ministro chefiou a campanha que elegeu o ex-presidente Lula em 2002 e
assumiu o papel de principal articulador político do novo governo, negociando
acordos com os partidos que formaram a base de apoio.
Em sua
defesa no processo do mensalão, Dirceu admite que negociou com os partidos
aliados, mas nega ter tratado de assuntos financeiros com eles e diz que se
afastou da administração do PT ao assumir a Casa Civil.
Em seu
interrogatório no processo, Dirceu disse que "organizou e negociou" a
formação da base aliada, que incluía os partidos (PP, o extinto PL, hoje PR,
PTB e PMDB) cujos líderes foram condenados nesta semana por corrupção passiva
no Supremo.
Sete dos
dez ministros também disseram que o objetivo do esquema era comprar votos no
Congresso no início do governo Lula, e não pagar dívidas de campanhas
eleitorais, como dizem o ex-presidente Lula e os acusados.
Dirceu
foi interrogado pela juíza federal Silvia Rocha em 24 de janeiro de 2008, por
ordem do STF. Indagado se o ex-ministro da Casa Civil Aldo Rebelo (PC do B)
havia conduzido as negociações para formação da base aliada, Dirceu a corrigiu:
"Não, foi eu que organizei e negociei a base aliada entre janeiro de 2003
a janeiro de 2004, que eu era o ministro responsável pela articulação política".
No
período citado por Dirceu, o esquema montado pelo PT e Valério já havia
recebido R$ 30 milhões de um fundo controlado pelo Banco do Brasil e R$ 32
milhões em empréstimos concedidos pelo Banco Rural e considerados fraudulentos
pelo STF.
No mesmo
período, o esquema destinou R$ 1,1 milhão para membros do PP, R$ 7,5 milhões
para o extinto PL, R$ 1,6 milhão para o PTB e R$ 200 mil para o PMDB.
Em nota
enviada ontem à Folha, a assessoria de Dirceu afirmou que seu
interrogatório na Justiça Federal e "todas as demais provas do
processo" mostram que o ex-ministro jamais tratou de dinheiro com esses
partidos.
(RUBENS
VALENTE E FLÁVIO FERREIRA)
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