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30 de jan. de 2013

Por: Joãozinho Ribeiro 

As manchetes dos principais jornais do país, divulgadas no último final de semana, dão conta do cancelamento ou de redução das verbas públicas destinadas ao carnaval de 2013 em algumas capitais e cidades importantes da Federação. Os motivos do cancelamento e/ou redução dos recursos destinados aos festejos momescos geralmente estão ligados ao estado de emergência ou de calamidade pública decretados pelos atuais prefeitos diante da herança deixada pelas gestões anteriores.

As capitais destacadas na matéria de capa do jornal Folha de São Paulo da edição do último sábado, 19 de janeiro, sob o título 'Sem verba, prefeituras cancelam Carnaval', são: Florianópolis (SC), Porto Velho (RO) e São Luís (MA). A primeira cancelou os desfiles de escolas de samba e destinou a verba de RS 3 milhões para a saúde; a segunda adiou os desfiles para março, com a possibilidade de serem cancelados, sob a alegação de que a gestão anterior não realizou as licitações no tempo hábil; já São Luís, aparece na matéria, com destaque para o cancelamento dos desfiles das escolas, em virtude destas agremiações terem exigido um cachê de R$ 40 mil da prefeitura, que decidiu pela destinação das verbas para a saúde.

A matéria informa ainda que, em São Paulo, foram canceladas festas em São Carlos, Caçapava, Guaratinguetá, Lorena e São José dos Campos, destacando que nesta última houve problemas nas contas do ano passado e que em cidades como Araraquara e Taubaté as festas terão duração mais curta, sendo que em Campinas, uma das cidades mais ricas do Estado, a festa irá durar só dois dias e não terá a presença de trios elétricos.

Em municípios de carnavais tradicionais de outras unidades da Federação, como Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, o quadro é o seguinte: Ilhéus (BA) – cancelou o carnaval, em conseqüência de dívidas acumuladas de R$ 2 milhões; Diamantina (MG) – o carnaval quase foi suspenso, mas vai ocorrer de forma econômica; Petrópolis (RJ) – os desfiles de escolas de samba foram cancelados e a verba de R$ 1 milhão será destinada a saúde. Em Guaratinguetá (SP), os desfiles foram cancelados porque não haveria tempo para fazer licitações e repassar as verbas para as escolas de samba locais.
Interessante reproduzirmos, na íntegra, neste artigo, a posição firme tomada por São Luiz de Paraitinga (SP), que se tornou famosa pela preservação do carnaval das marchinhas:

'A Prefeitura de São Luiz de Paraitinga (SP) barrou a realização de shows de funk, rock e música eletrônica planejados para o Carnaval pela cervejaria Skol, patrocinadora do evento. Segundo a prefeitura, as apresentações não se adequavam à tradição carnavalesca de marchinhas. Um panfleto anunciando shows de Jorge Bem Jor, Bonde do Tigrão e do DJ Bob Sinclair vazou na internet e gerou polêmica. A prefeitura informou que o patrocínio previa apenas instalação de barracas para venda de cerveja. De acordo com a administração, um decreto municipal proíbe a veiculação de outro ritmo que não marchinhas durante os dias de carnaval. A Skol disse que os planos ainda seriam propostos e que 'abraça' a tradição da cidade'.

Já em nossa São Luís, as cenas deprimentes registradas pela imprensa maranhense, nestas duas últimas semanas, proporcionadas pelos desgastados dirigentes de agremiações carnavalescas da nossa cidade, revelam o grau de isolamento e de despreparo, além da falta de legitimidade para se apresentarem como representantes das brincadeiras e manifestações da nossa cultura popular, às quais se encontram a frente como testas-de-ferro de algum político já se contam décadas.

Não conseguiram se entender e nem expressar um objetivo comum, como bem demonstrou a cobertura de um canal de televisão de grande audiência da cidade, nem mesmo durante a audiência com o prefeito Edivaldo Holanda Júnior, na tentativa de reverter a decisão do chefe do executivo de não mais assegurar a realização do carnaval de passarela, motivada principalmente pelos posicionamentos da Associação Maranhense de Blocos Carnavalescos – AMBC, Academia de Blocos Tradicionais do Estado do Maranhão e pela União das Escolas de Samba do Estado do Maranhão – UESMA, de não desfilar caso não fosse garantido o pagamento de cachês.

Patético e trágico o teor das entrevistas concedidas, ora defendendo o não desfile, ora afirmando que não foi bem isso que havia sido dito anteriormente, e que a maioria dos blocos e escolas estaria pronta para participar do desfile na passarela. As gravações das entrevistas realizadas pelas emissoras de rádio e TV servem como o melhor testemunho destas intervenções desprovidas do mínimo de coerência e fundamento lógico acerca da problemática instalada em torno do carnaval.

No geral, o que desponta como surpresa para os atuais gestores, grupos, agremiações e pessoas ligadas aos festejos carnavalescos em São Luís é a falência anunciada, já faz algum tempo, de um modelo de patrocínio e financiamento cultural baseado no repasse desenfreado e sem critérios transparentes de recursos públicos a grupos e pessoas que se tornaram verdadeiros proprietários de muitas, assim chamadas 'brincadeiras', que de há muito perderam totalmente os vínculos com as suas comunidades, muitas delas com a perpetuação de dirigentes que fizeram desta condição um meio econômico de vida e hoje se transformaram em verdadeiros agenciadores, despachantes e intermediários dos recursos públicos.
 
*Joãozinho Ribeiro é poeta e compositor, presidente da Fundação Municipal de Cultura de São Luís (1997/1998), secretário de cultura do Maranhão (2007/2009) e assessor do Ministério da Cultura (2009/2010). Escreve para o Jornal Pequeno às segundas-feiras.

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