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6 de jun. de 2011

As grandes empresas comportam-se como galinhas: botam apenas um ovo por dia e fazem o maior barulho possível. Eis aí o centro de uma estratégia de comunicação que manda extrair o maior proveito possível dos fatos positivos – sempre um de cada vez. É possível fazê-lo porque toda grande empresa tem controle absoluto sobre cada um dos seus passos. Quanto aos fatos negativos, no comments. Esses só são considerados em último caso.

Taí a Dona Vale ex-do-rio-Doce cacarejando seu último feito: a entrada em operação do navio Vale Brasil, “o maior mineraleiro do mundo”, com capacidade para transportar 400 mil toneladas de pedrinhas de ferro para a China.

Esse navio gigante começou a trabalhar na última semana de maio, em São Luís do Maranhão, sob as vistas de uma dezena de práticos de todo o Brasil e mais meia dúzia deles, vindos da China. Breve o bichão será visto no píer da Ponta de Tubarão, em Vitória.

Dizem as notícias que a Vale encomendou na Ásia mais uma dezena desses monstro de 362 metros de comprimento, 65 metros de largura e 56 metros de altura até o mastro.

Entre as vantagens da novidade, cita-se a redução de 35% na emissão de carbono por tonelada de minério transportada e a queda do custo do frete. Em outras palavras, a Vale vai lucrar mais gastando menos.

E dizer que há 40 e poucos anos o porto de Ponta de Tubarão foi concebido para receber supergraneleiros de 300 mil toneladas, garantindo glória eterna ao engenheiro Eliezer Batista, o chefão da Vale naquele tempo. Naquela época, acreditava-se que se havia chegado ao limite máximo no transporte de minério.

Passadas mais de quatro décadas, verifica-se que a galinha dos ovos de ferro continua ciscando no mesmo quadrinho. Pois ao encomendar uma frota de navios de 400 mil toneladas, a Vale dá mostras de que continua disposta a investir prioritariamente na exportação de minério. Como na época da sua fundação há 70 anos.

Se a atividade primária lhe dá uma lucratividade inigualável, por que mudaria o foco do negócio? Essa é a lógica da empresa privada orientada para remunerar seus acionistas.

Daí a pergunta atualíssima e ainda não respondida: por que uma empresa tão bem-sucedida troca o presidente que a elevou à condição de maior mineradora do mundo, tanto em volume de produção quanto em faturamento e lucros?

Até as montanhas mais recônditas de Minas Gerais fazem eco ao boato de que o presidente Roger Agnelli, homem originário do Bradesco (grande acionista da Vale), foi dispensado porque entrou em rota de atrito com a Presidência da República, já no fim do mandato de Lula.

Em sua primeira entrevista, o novo presidente Murilo Ferreira disse que a Vale está estudando a hipótese de exportar menos minério e fabricar mais aço. Ou, seja, “agregar valor”, expressão consagrada no mundo da economia. Para promover essa virada, precisaria investir alguns bilhões de dólares ao longo de vários anos.

Nos primeiros dias de junho, um diretor da Vale anunciou que a empresa está disposta a investir dois bilhões de dólares em siderúrgicas projetadas no Pará e no Ceará, mas como acionista minoritário. Sinal de que a gigante da mineração está começando a mudar sua rota de navegação. Em quanto tempo isso vai se concretizar?

Se a Vale vai atender ao pedido oficial, só o tempo dirá. Mas não há dúvida de que tudo isso é muito sério e muito engraçado ao mesmo tempo. Como se a galinha dos ovos de ferro estivesse sendo obrigada a uma reengenharia de produção, passando a entregar gemada, omelete e maionese em vez dos ovos de sempre.
Por: Geraldo Hasse [Jornalista e escritor]

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