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15 de dez. de 2011

Estimativa é de que causas do problema que ameaçou afundar o navio a serviço da mineradora brasileira demore no mínimo um mês para serem identificadas

Dubes Sônego e Yan Boechat, iG São Paulo 

Foto: Reuters
Só na segunda-feira começará a retirada do combustível do Vale Beijing, que, com casco avariado, continua parado nas proximidades do porto de São Luís

A Vale ainda terá que esperar cerca de um mês para ter uma noção mais exata do tamanho da encrenca que tem ancorada a 11 quilômetros da costa do Maranhão, e que ameaça levar ao fundo do mar 350 mil toneladas de minério de ferro e 7 mil toneladas de óleo combustível. Pelas estimativas de especialistas em navegação, será praticamente impossível saber o que houve no casco do supercargueiro Vale Beijing – e propor soluções para reparar a rachadura – em menos de 30 dias. De acordo com uma fonte ligada à Det Norske Veritas (DNV), companhia responsável pela análise de risco das soluções em estudo, este é um prazo mínimo para que os engenheiros encarregados de avaliar o problema deem um parecer técnico sobre as fissuras que permitiram a entrada de água nos tanques de lastro.

Trata-se de um processo longo e minucioso, que deve envolver uma série de empresas, desde o construtor do navio, o estaleiro sul-coreano STX, passando pela empresa que deu garantias de que o navio era seguro, a DNV, até o contratante da embarcação, a Vale. Além disso, a maneira como o navio será reparado ainda precisa ser aprovada pela Capitania dos Portos de São Luís, a autoridade marítima que trata do caso diretamente. O trabalho de inspeção da rachadura só deve ter início na segunda-feira, quando chegará a São Luís uma balsa que está vindo de Belém para retirar 50% do combustível que está nos tanques do navio. “Com isso a popa vai levantar um pouco e será possível começar a analisar o que houve, já que as rachaduras parecem estar na região da popa”, diz o superintendente do Ibama no Maranhão, Pedro Leão.

Enquanto informações mais precisas não são divulgadas, uma série de hipóteses começa a ganhar fôlego na comunidade internacional da navegação. Entre as mais populares está a desconfiança de que possam ter havido falhas na construção do Vale Beijing. Luiz Alberto de Mattos, diretor da classificadora de risco brasileira RBNA, diz que há poucas informações para avaliar o caso. Mas que o problema tanto pode ser resultado de um erro de projeto quanto de falha de material não avaliado em um ponto específico. “Vai haver muita especulação. Mas a causa real é assunto de estudo técnico que deverá sair em um mês, talvez. Depende de muitas variáveis”, afirma a fonte da DNV.

A companhia, de origem norueguesa, e especializada na identificação, avaliação e consultoria de riscos, foi a responsável por fazer a classificação de risco do Vale Beijing. Isso significa que a DNV teve acesso a todo o projeto de engenharia do navio e refez os cálculos para saber se a embarcação é segura. É um tipo de avaliação que costuma descer a níveis de detalhe como a composição do aço usado no casco da embarcação e a testes nas fábricas de onde saem os motores dos navios.Por isso, o problema no Vale Beijing pode trazer prejuízos diretos à empresa norueguesa.

É na avaliação das classificadoras de risco que as seguradoras costumam se fiar na hora de conceder e avaliar o valor da cobertura de um navio. São elas que dirão, por exemplo, se o navio pode carregar efetivamente a carga que o construtor diz que pode. Uma embarcação projetada para transportar 100 mil toneladas pode eventualmente carregar apenas 90 mil toneladas com segurança.

Segundo Mattos, da RBNA, o mais provável, no caso do Vale Beijing, é que uma série de fatores tenha contribuído para o problema. É o padrão, diz. Assim que conseguirem amostras da fratura no casco, os engenheiros responsáveis pela avaliação vão poder analisar onde ela começou e como se propagou. E, a partir daí, fazer simulações do que aconteceu. Só depois será possível determinar se o navio é seguro para cruzar os oceanos. Enquanto isso, o Vale Beijing deve ficar parado com mais de 350 mil toneladas de minério de ferro.

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