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11 de fev. de 2015

Daniela Martins

As derrotas da presidente Dilma Rousseff no Congresso lembram o que acontecia no governo Sarney, quando Ulysses Guimarães comandava o PMDB e presidia a Câmara dos Deputados e a Assembleia Constituinte. Na prática, Ulysses dava ordens ao Palácio do Planalto.

Na Câmara, já começam a falar que Eduardo Cunha simboliza a “sarneyzação” do governo Dilma. Isso representaria um enfraquecimento político do governo, que resultaria na perda do poder de aprovar projetos no Congresso e tomar iniciativa em grandes articulações políticas.

A derrota no Orçamento Impositivo, que obriga o Governo Federal a pagar as emendas parlamentares, era esperada. Já estava na conta do governo, que negociou no ano passado destinar metade das emendas à área da saúde, amenizando o projeto.

Mas a aprovação aconteceu na sequência de fatos negativos para a presidente Dilma Rousseff na Câmara. Portanto, é uma derrota que alimenta a sensação de fraqueza do governo no Congresso. É como se o Executivo, que sempre tem poder de influenciar as discussões no Legislativo, perdesse iniciativa.

A nova derrota aconteceu num dia de notícias ruins para o governo. O presidente da Câmara ameaçou chamar os 39 ministros para audiências no plenário. Cunha também indicou o deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ) para presidir a comissão especial da reforma política. O relator será Marcelo Castro (PMDB-PI), que fará o que Eduardo Cunha desejar. Ou seja, Dilma e o PT deverão ficar em segundo plano na discussão da eventual reforma política.

A presidente designou ministros para tentar negociar o pacote de medidas previdenciárias e trabalhistas que podem render 18 bilhões de reais ao governo. O valor é fundamental para fechar as contas públicas neste ano. Dilma vai conversar com o ex-presidente Lula, pedindo ajuda para enquadrar o PT em relação às medidas do ajuste. Poderia também envolver o vice-presidente Michel Temer nas reuniões estratégicas do governo e tentar uma reaproximação efetiva com o PMDB. Mas ela isolou Temer e fortaleceu Cunha.

Há, no fundo, uma torcida no Planalto para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, manifeste-se logo sobre quem são os parlamentares que poderão responder a inquérito ou a um processo no STF (Supremo Tribunal Federal) por causa da Operação Lava Jato.

Há rumores de que, além de políticos do PT, do PP e do PMDB, dois senadores da oposição poderiam estar na lista de Janot. Há informações de bastidor de que Eduardo Cunha e o presidente do Senado, o também peemedebista Renan Calheiros, podem ser alvo do procurador-geral.

Sob ameaça de “sarneyzação”, parece pouco contar com uma ajuda indireta de Janot. No Planalto, a ideia é que, se outros políticos entrarem na linha de tiro das investigações, Dilma receberia uma trégua política. É uma possibilidade.

A outra possibilidade é a lista de Janot desorganizar ainda mais a base de apoio do governo e enfraquecer o comando do Congresso.

Além de tentar uma recomposição real com o PMDB, a saída da crise, para o governo, está na economia. É necessário enfrentar a realidade econômica, lutar para aprovar o ajuste fiscal, atravessar o deserto e esperar os resultados de eventual melhora no ano que vem. Resumindo, é arrumar a economia. Dilma não tem outra saída. ( Blog do Kennedy)

 

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