Folha de São Paulo
Uma
empresária do ramo de transportes confirma ter entregue R$ 200 mil ao
ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi (PDT) como suborno para acelerar a criação
de um sindicato. O ex-ministro nega.
A
denúncia de Ana Cristina Aquino –publicada pela revista "IstoÉ" no
último final de semana– foi feita em entrevista à Folha ontem.
Ela
afirmou ter levado o dinheiro a Lupi no próprio gabinete do ex-ministro em
Brasília, no segundo semestre de 2011, com o objetivo de acelerar a obtenção do
registro do Sincepe (Sindicato dos Cegonheiros de Pernambuco).
"Fui
muito bem atendida, tomamos café, o ministro muito sorridente. Falava que ia
ser o código sindical mais rápido da história, ele [Lupi] brincava com
isso", disse.
Após o
suposto pagamento, segundo Aquino, o processo de criação do Sincepe "andou
em um dia o que andaria em um mês".
O trâmite
teria desacelerado após a saída de Lupi da pasta, sob suspeitas de
irregularidades, no final de 2011. Quem intermediou o encontro com Lupi,
segundo a empresária, foi o advogado João Alberto Graça, assessor do ministro
do Trabalho, Manoel Dias (PDT), e membro do diretório nacional do PDT.
Aquino
diz que Graça figurou como sócio de uma de suas empresas, a filial paranaense
da AGX Log Transportes, e advogou pela criação do sindicato de cegonheiros.
"Depois
[Graça] saiu da sociedade [no final de 2013, após primeiras denúncias da
"Isto É" sobre o caso] e exigiu, para não fazer confusão, R$ 180 mil
mais R$ 300 mil, sem que tivesse colocado um real na empresa", disse a
empresária em documento registrado em cartório, ao qual a Folha teve acesso.
Procurado
por meio da assessoria do ministério, Graça não havia respondido até a
publicação desta reportagem.
O
dinheiro repassado a Lupi, segundo Aquino, era do empresário Sérgio Gabardo,
dono da Transgabardo, no RS, e que ela diz ser ligado ao assessor Graça. Ele
nega.
A
empresária disse ser vítima de Gabardo e que ele "administra uma
monumental lavagem de dinheiro com participação de políticos".
PARANÁ
À
"IstoÉ" a empresária afirmou também ter pago R$ 500 mil ao secretário
de Infraestrutura e Logística do Paraná, Pepe Richa, irmão do governador Beto
Richa (PSDB), para abrir uma filial de sua empresa. Ele nega e diz temer que
"interesses políticos estejam envolvidos".
OUTRO
LADO
O
ex-ministro Carlos Lupi (PDT), que ocupou o Trabalho de 2007 a 2011,
classificou as acusações da empresária Ana Cristina Aquino como "surreais"
e "inverossímeis".
Afirmou
que nunca esteve com ela e que não há registro da suposta presença da
empresária no ministério. "Vou colocá-la na Justiça e espero que vá para a
cadeia", disse.
O
Ministério do Trabalho informou que o processo de criação do Sincepe foi
cancelado no último dia 23, por força de uma ordem judicial de abril de 2012,
que apontou irregularidades na assembleia de fundação da entidade.
Escalado
para falar com a reportagem, o secretário de Relações do Trabalho do
ministério, Manoel Messias, que assumiu em junho de 2012, disse que não poderia
responder pelo trâmite do processo do Sincepe no período anterior a sua chegada
à pasta.
Segundo
ele, eventual rapidez no processo verificada após 2012 resulta de mutirão de
análises feito pela pasta.
O
empresário Sérgio Gabardo disse ter mantido apenas relações comerciais
eventuais com Ana Aquino, e negou participação em suposto esquema de corrupção.
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