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19 de ago. de 2014

Artigo do jornalista Othelino Filho
othelino filhoO clamor solidário da população contra o conjunto de desmandos praticados no Maranhão, ao longo de décadas, pelos grupos dominantes, foi manifestado de modo relativamente tímido, durante longo tempo (com hiatos de resistências históricas, porém,  sem consequências definitivas).
Tomou vulto e passou a ecoar progressivamente, à medida em que as posturas se intensificavam, tornando-se cada vez mais sofisticadas e céleres, então sob a garantia de absoluta impunidade.
Logo o sentimento coletivo evoluiu para uma indignação consciente, com denúncias fundamentadas através de movimentos e redes sociais. Na agenda dos insubmissos, o inconformismo com a falta de ética na política, caracterizada, entre outras práticas lesivas, pelo mau uso do dinheiro público e enriquecimento ilícito, envolvendo parte significativa dos que são escolhidos para representar a sociedade, bem como em relação às pessoas nomeadas para ocupar cargos-chaves nos poderes constituídos.
A palavra de ordem passou a ser alternância de poder. Essa exigência por mudanças pontificou tão vigorosamente que assumiu o caráter de fenômeno social.  Envolve as pessoas de bem, que acalentam o sonho de estudar, se qualificar, trabalhar e viver com dignidade, compostas por mulheres e homens; crianças, jovens e idosos de todas as etnias, credos e posições socioeconômicas.
Chegou-se à conclusão óbvia de que, muito mais do que antidemocrático e injusto, é puro exercício de uma dominação tirânica o fato de apenas um clã e seus seguidores mais próximos se locupletarem das riquezas do Estado. Realidade agravada com a exploração e opressão de trabalhadores humildes, da cidade e do campo. Gente de boa-fé, indefesa, que paga com sacrifício, suor, sangue e lágrimas a circunstância de ter nascido e viver sob o jugo de uma oligarquia egoísta, cruel, sequiosa de poder e fortuna. Chega de tragédia humana, de horror!
Demonstrando caráter dúbio e repugnante, alguns políticos tornaram-se renegados. Mudam de posição ao sabor das próprias conveniências. Pouco ou nada importam o interesse público e o bem comum. O deputado e secretário de Estado da Saúde, Ricardo Murad, expressa bem essa figura abominável.
Bastou que o grupo político de onde veio, rompeu furiosamente e para onde voltou rastejando (não se sabe até quando fica), caísse em queda livre, ele agride adversários para prestar serviços. O ex-governador José Reinaldo (candidato a deputado federal) e o deputado estadual Othelino Neto (candidato à reeleição), ambos com vibrante receptividade no eleitorado maranhense, têm sido alvo dos seus impropérios.
Embora pretendamos continuar debatendo ideias, apontando soluções para vencer o estado de penúria a que os maranhenses foram relegados pela oligarquia sarneyzista que hoje defende, vamos relembrar o nível de coerência do “trator”, reconhecendo-o indiferente às leis, antiético e politicamente volúvel e desastrado.
Ricardo Murad é irmão de Jorginho, marido e sócio de Roseana Sarney. É cunhado de Fernando Sarney. Ingressou na carreira política sob extrema empolgação com a performance do “maior estadista de todos os tempos”, José Sarney. Foi eleito deputado estadual e federal.
Preterido na aspiração de ser candidato a governador do Estado em 1994 (quando foi escolhida Roseana, a filha predileta de Sarney), rompeu com o grupo de origem e, dando uma guinada de 180 graus, tornou-se ferrenho opositor, acusando o seu ex-guru de chefiar a mais nefasta oligarquia brasileira. Por conta do parentesco próximo com a então governadora, foi impedido de se candidatar em duas eleições. Em 2002, foi candidato sub judice ao governo pelo PSB. Lançou a campanha em meados de fevereiro, anunciando as principais características de “um governo de oportunidades para todos”.
Na ocasião, realçou “uma proposta voltada para o enfrentamento dos graves problemas sociais, mas denunciando a corrupção e o atraso da oligarquia Sarney, no Maranhão”. Em breve pronunciamento, Ricardo Murad afirmou: “O Governo Roseana privilegia os interesses particulares”, acrescentando que “o Maranhão, um Estado potencialmente rico, tem atualmente o povo mais necessitado do Brasil. As fortunas existentes, com raras exceções, são de pessoas que ou passaram por cargos políticos, ou pertencem aos esquemas formados pelo grupo dirigente…”
Insistiu, enfaticamente: “O Maranhão não tem governo, os serviços públicos não funcionam”, denunciando que “o nível de produção atual do Maranhão é menor que o de 20 anos atrás e, nesse sentido, queremos assegurar a estrutura pública para garantir a produção e a comercialização dos produtos básicos, redirecionar o governo para o foco do anônimo, massificar o ensino e garantir a formação de mão de obra qualificada”. (JP, 16.2.2002). Com receio de ter a candidatura cassada e ser condenado a todos os ônus processuais, renunciou.
Durante quase dois anos, comandou a Gerência Metropolitana na Administração José Reinaldo (a quem reiteradamente exaltava como o melhor governador e extraordinário líder do movimento libertário do Estado). Em consequência de denúncias de gestão temerária, com inúmeras irregularidades, entre as quais autorização para execução de obras sem licitação, favorecimento e uso político do cargo (comprovados), foi demitido. Rompeu com José Reinaldo e, incontinenti, reintegrando-se ao seio oligárquico, foi nomeado coordenador da campanha caluniosa, injuriosa e difamatória tanto contra o governo do ex-amigo, correligionário e chefe, quanto em relação ao cidadão Zé Reinaldo e à família. (Prática criminosa repetida, agora, contra Flávio Dino, favorito disparado em todas as pesquisas. O prefeito Edivaldo Holanda é outra vítima).
Em 2004, candidatou-se a prefeito de São Luís, apoiado pelo clã Sarney, ao qual pertence por afinidade familiar. Patinou nos sete por cento dos votos, assumindo a lanterna entre os candidatos em condições de vencer as eleições. Depois de passar pelo PFL, PSD, PDT e PSB, hoje é filiado ao PMDB. Onde andam autoridade moral e coerência do trânsfuga? Certamente nos porões da obscuridade oligárquica enraizada…
(**) Este artigo é dedicado ao estadista Eduardo Campos, que honra para sempre a política e a Nação brasileiras, fiel ao perfil familiar, incluindo o seu avô Miguel Arraes.

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