O Estado
de S.Paulo
Depois de
prestigiar o poder do clã Sarney na política nacional e manter uma relação
próxima nestes últimos 11 anos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a
presidente Dilma Rousseff acertaram uma "traição cirúrgica" ao
senador José Sarney e a sua família, que comandam o Maranhão há 50 anos.
Em
reunião no Alvorada na quinta-feira passada, os coordenadores da campanha pela
reeleição de Dilma concluíram que chegou a hora de o governo apoiar a eleição
de Flávio Dino (PC do B) no Estado e garantir um palanque forte para a
presidente no Maranhão. O presidente do PT, Rui Falcão, foi contra, mas foi
voto vencido.
A própria
dinâmica da política local guiou a decisão do grupo formado pelos ministros
Aloizio Mercadante, o marqueteiro João Santana, o ex-ministro Franklin Martins,
o presidente do PT, Rui Falcão, além de Lula e Dilma. A atual governadora,
Roseana Sarney (PMDB), que está em seu segundo mandato consecutivo, não poderá
concorrer. O escolhido da família é o secretário de Infraestrutura do Estado,
Luís Fernando Silva, que não está bem posicionado nas pesquisas eleitorais. Um
palanque patrocinado pelos Sarney, na avaliação do grupo, seria
contraproducente. O apoio a Dino poderá interditar, ainda, qualquer costura
local do PC do B com o PSB para franquear palanque à dupla Eduardo Campos-Marina
Silva.
O cenário
é ruim para Roseana e para a reprodução do apoio do Planalto à governadora. Ela
enfrenta problemas na disputa pela única vaga ao Senado em 2014. Seu principal
adversário ao cargo, o vice-prefeito de São Luís, que é do PSB, está à frente
nas pesquisas. Além disso, se Roseana deixar o governo para concorrer ao Senado
em 2014, o vice-governador Washington Luiz Oliveira, do PT, assume o Estado. O
clã Sarney considera que Washington não é completamente alinhado com a família
e teme que ele não trabalhe com afinco para ajudar a eleger o escolhido para
suceder à governadora.
O PT do
Maranhão, por sua vez, está em crise desde 2010, porque foi obrigado a apoiar a
reeleição de Roseana, quando queria se aliar a Flávio Dino. Houve intervenção
de Lula no PT local e isso acabou enfraquecendo o partido, que perdeu muitos de
seus integrantes.
Além
disso, neste momento, o próprio PC do B está cobrando o Planalto que abra
espaço para o nome de Dino porque o partido é um aliado tradicional do governo
e tem no Maranhão o único Estado capaz de eleger um governador. Dino, que hoje
preside a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur), pode articular um palanque
para o PSB ou PSDB no Estado se for rifado pelos petistas.
Colateral.
O descolamento de Dilma e Lula de
Sarney será, no entanto, cuidadosamente planejado para não produzir efeitos
colaterais indesejados na aliança PT-PMDB em outros Estados. A ideia é
circunscrever o rompimento ao Maranhão. Lula está disposto, por exemplo, a dar
apoio a Sarney se quiser tentar a reeleição pelo Amapá.
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